No calendário litúrgico, os dias 14, 15 e 16 de setembro são o que poderíamos chamar “tríduo doloroso”. São três dias em que, provavelmente por coincidência, primeiro se exalta a Santa Cruz de Cristo, depois a memória de Nossa Senhora das Dores, e, por fim, São Cornélio, papa, e São Cipriano, bispo, ambos mártires. São Paulo diz aos colossenses: “Agora me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo em minha carne, por seu corpo que é a Igreja.” (Cl 1,24)
É claro que não se trata de alargar a salvação. Esta é completa em Cristo. Em Cristo, pela graça santificante do Espírito Santo, chegamos ao Pai e participamos da vida divina (Catecismo da Igreja Católica [CIC], 1999). Também nossa redenção é completa em Cristo, que, sendo Deus, uniu-se à humanidade nascendo de uma Virgem, morreu em obediência ao Pai e inocente, castigado por nossos crimes, abriu as portas do Céu aos justos que o precederam, ressuscitou e, elevado ao Céu, elevou ao Pai a nossa natureza humana (Is 53; Jo 1,1-14; Rm 5,19; Cl 1,15-23; 2Pd 1,4; símbolos Apostólico e Niceno-Constantinopolitano; CIC 422-667).
O que fala, então, São Paulo a respeito do sofrimento humano? O beato João Paulo II nos explica muito bem, em sua carta apostólica Salvifici Doloris (23):
Aqueles que participam dos sofrimentos de Cristo têm diante dos olhos o mistério pascal da Cruz e da Ressurreição, no qual Cristo, numa primeira fase, desce até às últimas conseqüências da debilidade e da impotência humana: efetivamente, morre pregado na Cruz. Mas dado que nesta fraqueza se realiza ao mesmo tempo a sua elevação, confirmada pela força da Ressurreição, isso significa que as fraquezas de todos os sofrimentos humanos podem ser penetradas pela mesma potência de Deus, manifestada pela Cruz de Cristo. Nesta concepção, sofrer significa tornar-se particularmente receptivo, particularmente aberto à ação das forças salvíficas de Deus, oferecidas em Cristo à humanidade. Nele, Deus confirmou que quer operar de um modo especial por meio do sofrimento, que é a fraqueza e o despojamento do homem e ainda, que é precisamente nesta fraqueza e neste despojamento que ele quer manifestar o seu poder. Compreende-se, deste modo, a recomendação da primeira Carta de São Pedro: Se alguém “sofre por ser cristão, não se envergonhe, mas dê glória a Deus por este título” [1Pd 4,16].
Ademais, se há “um só corpo e um só espírito” (Ef 4,4), se somos todos membros do Corpo de Cristo (Rm 12,4s; 1Cor 10,17) toda vez que alguém deposita em Deus sua esperança, é todo o Corpo de Cristo que se beneficia. Toda vez que alguém perdura na fé mesmo quando os sofrimentos o põem à prova, é todo o Corpo de Cristo que cresce. “O sangue dos mártires é a semente de novos cristãos”, disse Tertuliano. Essa é a comunhão dos santos.
É dessa solidariedade na Cruz que já o justo Simeão falava quando disse para Maria: “uma espada transpassará a tua alma” (Lc 2,35). Assim podemos pedir a Deus: “Elevai-nos pela cruz até o vosso Reino!” (Liturgia das horas [LH], próprio da Exaltação da Santa Cruz, II Vésperas). Por isso pedimos a Deus que dê a sua Igreja, “unida a Maria na paixão de Cristo, participar da ressurreição do Senhor” (LH, próprio de Nossa Senhora das Dores, Laudes). Como diz São Paulo aos Coríntios: “Com efeito, à medida que em nós crescem os sofrimentos de Cristo, crescem também por Cristo as nossas consolações” (2Cor 1,5).
Pelo que tudo suporto por amor dos escolhidos, para que também eles consigam a salvação em Jesus Cristo, com a glória eterna. Eis uma verdade absolutamente certa:
Se morrermos com ele,
com ele viveremos.
Se soubermos perseverar,
com ele reinaremos.
Se, porém, o renegarmos,
ele nos renegará.
Se formos infiéis…
ele continua fiel,
e não pode desdizer-se.
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