Muito se tem dito sobre reforma política. Os sucessivos casos de corrupção eleitoral envolvendo os mais diversos partidos, da situação e da oposição, têm demonstrado como é importante aprimorar o sistema eleitoral brasileiro, especialmente no tocante ao financiamento de campanha. Como deixar nossa política mais justa, democrática e participativa?
Em vistas disso, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e entidades da sociedade civil se reuniram para elaborar uma proposta consensual. Da parte da Igreja Católica, participaram também, por exemplo, o Conselho Nacional do Laicato do Brasil, a Comissão Brasileira de Justiça e Paz e as Pontifícias Obras Missionárias. Da sociedade civil, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE, que tomou para si a batalha pela Lei da Ficha Limpa), a Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político, a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e a União Nacional dos Estudantes (UNE). Estas últimas entidades e a CNBB formam a executiva da Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas. Como se vê, os principais agentes da luta pelos direitos humanos, pela democracia e em favor dos menos favorecidos na história recente do Brasil.
O resultado a que se chegou foi o possível, mas uma grande base para avançar mais no futuro. Nas palavras do arcebispo primaz do Brasil, dom Murilo Krieger:
Os pontos defendidos pelas entidades e grupos que assumiram essa proposta poderiam, naturalmente, ser diferentes, em maior número ou mais amplos. No entanto, a proposta final foi a síntese a que elas chegaram, depois de inúmeras reuniões e debates. Se tais pontos não resolvem todos os problemas que nos preocupam no momento atual, servirão, no entanto, para darmos um importante passo para um novo tempo. […] No futuro, outros passos poderão ser dados para o aperfeiçoamento de nossa Democracia. Não exagero ao afirmar que, nesse campo, a CNBB poderá oferecer uma preciosa contribuição, como a deu no tempo da Constituinte, com o texto “Por uma nova ordem constitucional”.
Para que não restem dúvidas, eis o resumo do que essa proposta nos apresenta para aprimorar o sistema eleitoral brasileiro e, como conseqüência, a nossa democracia:
- Financiamento das campanhas dos candidatos: em vez do sistema atual, que envolve recursos públicos, de eleitores e de empresas, apenas recursos públicos e de eleitores (com limite máximo, para que doações de empresas não possam ser ocultadas por “laranjas”). Para o MCCE, “Empresa não é eleitor, ela não vota. Então, não tem porque ela participar das campanhas eleitorais, isso cria uma distorção no processo democrático e vai contra o conjunto da população” — essa mesma tese obteve maioria dos votos no Supremo Tribunal Federal, que está julgando a questão do financiamento empresarial.
- Eleição proporcional em dois turnos: um para se votar no programa de uma legenda, e outro para se votar em uma pessoa, de forma que o eleitor determine claramente quem será eleito. No sistema atual, o voto se dá em um candidato, mas ele é computado para a legenda, ocultando dessa forma as idéias que prevalecerão no parlamento.
- Aumento de candidaturas de mulheres para cargos eletivos, porque elas têm uma importante contribuição a dar na política, diferente e complementar àquela dada pelos homens. Homem e mulher são complementares, “auxiliares que se correspondem” (v. Gn 2,18).
- Regulamentação do Artigo 14 da Constituição, com o objetivo de se melhorar a participação do povo brasileiro nas decisões mais importantes, por meio de Projetos de Lei de iniciativa popular, de plebiscitos e de referendos, mesclando a democracia representativa com a democracia participativa. “Toda democracia deve ser participativa”, diz a Igreja Católica (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 190)
Na seqüência falarei detidamente sobre cada uma dessas propostas.
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