CNBB é contra o golpe: bispo de Crateús explica o porquê

Num momento de ânimos acirrados na sociedade brasileira, a palavra serena e coerente de um bispo pode fazer a diferença. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil já emitiu várias notas pedindo paz e governabilidade para o país, a mais recente publicada aqui no Caritas in Veritate. Mas, muitos insistem em não compreender, como se vê pelos comentários. Confira, então, as palavras do bispo de Crateús (CE), dom Ailton Menegussi:

Sobre esse momento de crise política do Brasil, podem todos saber que o episcopado brasileiro é composto de quase 500 bispos. Vocês não vão pensar que 500 bispos pensem igualzinho ao outro. Mas, como CNBB, duas coisas posso dizer a vocês.

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É claro que nenhum bispo concorda com corrupção, e nós apoiamos que as investigações sejam feitas, queremos que as denúncias sejam apuradas e que, uma vez provadas, e não antes de serem provadas — escutem bem isto: o que está acontecendo no Brasil é que já estão tratando de “criminosos” antes de se provar as coisas —, uma vez provadas, que se punam os culpados. Agora, os culpados não são desse partido ou daquele só não, não sejamos bobos: tem corrupto em tudo que é partido, e a corrupção não foi inventada de quinze anos pra cá. Não sejamos inocentes. O que está acontecendo é que agora se está permitindo que as coisas apareçam. Isso é bom, não é ruim. Esse é o primeiro pensamento da CNBB.

Segundo, nós não aceitamos que partido político nenhum aproveite essa crise para dar golpe no país. Não é hora de virar: “vamos aproveitar agora para tirar essa turma do poder, porque nós queremos voltar”. Nós não estamos interessados de trocar governo, simplesmente: nós queremos que o país seja respeitado. Que os cidadãos brasileiros sejam respeitados, é isto que quer a CNBB. Nós não vamos simplesmente apoiar troca de governos, de pessoas interesseiras, que estão apenas querendo se apossar, porque são carreiristas. Não vamos acreditar que — muito desse barulho aí — estejam preocupados conosco, não. Tem muita gente lá posando de santinho, mas que nunca pensou em pobre e não pensa em pobre. Tão fazendo discurso bonito porque querem o poder. E com isso a CNBB não concorda.


Comentários

31 respostas para “CNBB é contra o golpe: bispo de Crateús explica o porquê”

  1. v e r g o n h a

  2. Avatar de Adelmo Felicori Jr.
    Adelmo Felicori Jr.

    Sou católico praticante e sempre achei que a igreja tem o dever de defender a justiça e a verdade, principalmente o povo que sofre. Acho que este tipo de posicionamento não ajuda em nada e nos leva a entender que a CNBB está se alinhando do lado errado. A ideologia da igreja deveria ser o que a biblia nos ensina. Não acompanho o pensamento da CNBB e, pelo que sei, muitos padres e bispos tambem não. Vamos com calma, vejam todos os lados. Afastem a ideologia comunista da igreja.

  3. […] Fala do bispo de Crateús, dom Ailton Menegussi […]

  4. Caros Carmela e Adelmo,

    É uma pena que vocês pensem dessa maneira. O que a Igreja, representada pela CNBB e pelos bispos individualmente, está fazendo é pregar o Evangelho da Paz. É pregar o auxílio aos mais necessitados. É cuidar dos pobrezinhos do Senhor. É o que está na Lei. Foi o que fizeram os profetas. É o ensinamento de Jesus Cristo posto em prática. Mas, como bem disse o servo de Deus dom Hélder Câmara, “Claro que dirão, Mariama, que é política, que é subversão. É Evangelho de Cristo, Mariama.”

    Talvez os textos compilados no Visão Católica ajudem a esclarecer a questão: http://www.visaocatolica.com.br/2016/03/dossie-igreja-catolica-firme-pela-democracia/

    1. Olá Leandro.
      Acredito que existe um compromisso da Igreja com os sofredores. A caridade evangélica nos impele a isto. No entanto, posicionamento político é outra questão. A Igreja sim, deve lutar quando os “menores” são oprimidos, contudo, o que me parece acontecer no Brasil não é isto. Tomadas pela alcunha de defesa aos mais pobres, muitos líderes ferocinam seus posicionamentos políticos. Veja, para ambos os lados. Tal passionalidade que desfoca de uma discussão séria sobre o assunto e polariza a realidade. O bispo supracitado tem liberdade de manifestar-se, contudo, por ele ser membro do magistério, seu posicionamento diante da sua assembléia pode ser visto como uma verdade dogmática. Dogmas na fé são bem vistos, mas na política, nem tanto. Quando a defesa de algo deixa de partir de argumentos factuais e apelam para questões afetivas me é um sinal de alerta. Neste momento, onde a violência e a agressão mútua tem se instalado, parece-me imprudente tal posicionamento. E como volto a dizer, isto nada fere a “opção pelos mais pobres”. Trabalhar a criticidade no povo de Deus e capacidade de escolher por critérios de justiça e responsabilidade social, são mais conveniente do que simplesmente expressar, por falas afetivas, um posicionamento particular. O fiel tem liberdade de escolher o acreditar que as motivações que levam ao processo de impeachment são verdadeiras ou não, mas tal resolução deve nascer na consciência esclarecida deste sujeito.
      Como disse, isto é minha expressão particular.
      Grato.

      1. Irmão,

        Nem todo pronunciamento de um bispo é dogmático, ainda que ele seja dotado de autoridade para interpretar a Escritura e o Magistério, e para ensinar sobre fé e moral. E, além disso, dogma não é uma “questão afetiva” – é uma verdade revelada por Deus, apreensível pela razão por meio da fé.

        Penso, contudo, que a fala do bispo de Crateús foi bem argumentativa – na proporção que a situação permitia. Ele falou de presunção de inocência, uma breve constatação histórica sobre a corrupção, e outra sobre os interesses em jogo. O fiel não é obrigado a seguir acriticamente esse ensinamento, e não se trata de dogma. Mas, deve considerá-lo com respeito. Ele tem autoridade para dizer o que disse. Eu, não.

        A paz!

        1. Avatar de Frei Givaldo
          Frei Givaldo

          Paz e bem. Os dogmas também firma corações para misericórdia porque “eterna é a sua misericórdia” Deus é misericórdia. Sendo assim todo cristão vai olhar para os mais necessitados e viver o que aprende de Deus.

  5. Avatar de Ariane Farah Alvarenga
    Ariane Farah Alvarenga

    Concordo plenamente. Jesus foi julgado por uma turba cheia de ódio e preconceito e a lição já deveria ter sido aprendida. Julgar é um ato terrível e caso tenhamos de fazê-lo que seja com paz, muito amor e senso de responsabilidade social.

    1. Justamente, Ariane! Infelizmente, continuamos a crucificar Jesus e a soltar Barrabás. Que ao menos nessa Páscoa cada um de nós e o Brasil inteiro ressuscitemos com o Cristo e vivamos para Deus (Rm 6,11)!

      1. Avatar de Benedito Paula de França Junior
        Benedito Paula de França Junior

        Sábias palavras! E quantas vezes a história do Cristo Salvador vai se repetir? Quantos mais, Barrabas serão soltos em detrimento de justos. Como se vê, o caminho dos justos é sempre mais doloroso.

  6. Se defender os pobres é comunismo, Jesus seria chamado de comunista e condenado por essa gente que diz pertencer ao povo de Deus e que na verdade nunca praticou o amor ao próximo quando esse próximo é pobre. Ser cristão não é só ir à Igreja, é praticar os ensinamentos do evangelho. Mas Deus, onipresente, bem sabe o que passa no coração ruim dessa gente que não quer que o pobre tenha alguma coisa e eles prestarão conta a Deus no Juízo Final.

  7. Avatar de André Cristiano da Soledade
    André Cristiano da Soledade

    A Igreja é tanto mais autêntica e coerente com a Missão que ela recebeu de Cristo, tanto quanto não nega a verdade dizendo que ” o mal é um bem e o bem é o mal, que as trevas é luz e a luz é trevas;” quando ela não diz que “a verdade é mentira e a mentira é a verdade”. Essa inversão é abominável aos olhos de Deus, como ensina o profeta Isaias (Is 5,20). Essa é uma atitude que temos visto em setores que se arrogam donos da verdade e recusam ouvir os apelos que Deus nos faz hoje e não no passado. Eles tiram sua visão de Igreja e da sua doutrina de princípios e atitudes periféricas e caducas que servem mais de empecilho para andarmos com maior rapidez ao encontro de Deus e dos irmãos. Quem diz que ama a Deus e não ama seu irmão é mentiroso – nos ensina São João em sua carta.
    Rezo sempre pelos nosso Papa, bispos e padres. Peço a Deus que os proteja e dê a eles coragem para continuarem testemunhando o Amor que Deus manifestou por nós no seu Filho Jesus Cristo.
    André Cristiano da Solidade.

  8. Justamente isso, nao estamos nem de um lado, nem do outro, mas contra a corrupçao no geral, venha de onde venha, sem ilusao e sem fazer fazer o jogo de quem tenta ganhar o poder so para si mesmo.

  9. Bom gente, até onde me consta, este bispo, como também D. Darci, não pode falar em nome da CNBB. São suas opiniões indivíduas e próprias. Quem pode falar em nome da CNBB é sua presidência, o que eu tenho acompanhado é que nada manifestaram até agora. Blogs podem publicar livremente seus conteúdos. Estes podem ou não corresponder a verdade. Não existe compromisso editorial com nenhuma organização. No entanto, como este blog é católico e se utiliza de uma expressão forte (Caridade na Verdade), acho que deveria ter o cuidado com o títulos de seus artigos. Sim, quem o coordena pode ter sua opinião política sobre o assunto, mas não deve dizer que um posicionamento é da Igreja organizada no Brasil, quando este não é.

    1. Olha, Fábio, eu não posso falar em nome da CNBB. Não tenho autoridade para interpretar o Magistério da Igreja. Quem tem autoridade para fazê-lo são os bispos (v. Catecismo da Igreja Católica, n. 2034, entre outros). Ainda que não tenhamos uma teologia muito bem definida sobre o papel das conferências episcopais, trata-se de Magistério, e sua interpretação autêntica cabe aos bispos.

      Alguns bispos têm se pronunciado de maneira mais clara sobre os acontecimentos recentes. Poucos têm se dado ao trabalho de interpretar os documentos da CNBB, e o bispo de Crateús, D. Ailton, foi um deles. E foi muito claro na interpretação: “nós não aceitamos que partido político nenhum aproveite essa crise para dar golpe no país. Não é hora de virar: ‘vamos aproveitar agora para tirar essa turma do poder, porque nós queremos voltar’.” No mesmo sentido se pronunciaram alguns organismos da CNBB: Caritas, CPT, CMI, CPP, SPM. Pode-se, portanto, afirmar com certeza que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil é contra o golpe.

      Deixei de manifestar minha opinião pessoal muitas vezes nas últimas semanas. Preferi me abster de debates estéreis. Mas, com todos esses testemunhos do posicionamento da CNBB, não pude deixar de me pronunciar. Você pode ver um conjunto de documentos a esse respeito em http://www.visaocatolica.com.br/2016/03/dossie-igreja-catolica-firme-pela-democracia/

      A paz!

  10. Veremos se meu comentário será aprovado pelo moderador…aguardemos!

  11. Tirar uma quadrilha de corruptos do poder não é golpe, ou na época que o F Collor foi retirado do poder foi golpe, se foi porque na época a CNBB apoiou o golpe? A verdade infelizmente é que o PT nasceu dentro da Igreja e que infelizmente ainda existe na Igreja muitos que estão cegos e colocam esta quadrilha acima da verdade.

    1. Fernando, penso que chamar um partido de “quadrilha”, seja que partido for, é muito forte. Em todos eles há gente que se desvia da política saudável, e em todos eles certamente há quem pratique a sã política.

      O que se discute, quando se compara o atual processo de impeachment a um golpe, são especialmente os argumentos utilizados na acusação. Por exemplo: atraso de pagamentos só passaram a ser considerados irregulares pelo TCU no ano passado, e em seguida o governo federal tomou medidas para coibir essa prática – ninguém pode ser punido porque um órgão público mudou de entendimento após a prática de um ato (seria como prender alguém por furar a fila antes de a lei determinar que furar fila é crime). Quanto aos decretos, eles foram bem esclarecidos pelo governo federal, e não alteraram o resultado primário. Portanto, do ponto de vista jurídico, não há razão para o impeachment.

      Ademais, o povo brasileiro escolheu não apenas uma pessoa para governar o país, mas também um programa político. Tirar um governante para mudar o programa político é a definição clássica de golpe de Estado, independente do uso de armas. E é isso que está ficando cada vez mais claro no processo em curso. Portanto, se me permite opinar, é golpe.

  12. Se o Papa Bento XVI na sua humildade, sentindo que não tinha força para governar a igreja, combater aqueles que lá estão tendo outros interesses, nós não conheceríamos o Papa Francisco e hoje o seguimos, o mundo segue. Nossa Presidente também não tem condições de governar mais, a maioria também não aceita mais. Somente o Pt atende as necessidades dos pobres?Somente o pt fez alguma coisa para o povo? Porque somente este partido, todos são iguais, nós que precisamos ter em mente é que não podemos compactuar com partidos , pessoas que estão no poder para se beneficiar. A Presidente é responsável pela economia do país, pelas mazelas que foram feitas em sua gestão. Será que nos outros países os Bispos tem partidos, participam de governo, direciona o povo a seguir tal governo, acredito que não, aqui no Brasil me parece que alguns Bispos querem ser políticos, talvez estejam enganados ou deixando suas mentes se enganar.

    1. Ou, talvez, o povo cristão precise ser orientado nessas questões, que não podem ser separadas da moral (v. Mater et magistra, passim).

    2. Avatar de Edwin Vivanco Valenzuela
      Edwin Vivanco Valenzuela

      Deus salve nossa nação corrompida como está pelo pecado, ajudemos o pobre, mas também protejamos a família e as crianças nascidas e não nascidas ainda, oremos muito pela nossa salvação e a do mundo inteiro. O tempo é curto, anunciemos Jesus a todos, procuremos o reino de Deus e Sua Justiça e tudo o mais será acrescentado. Salve Maria!

  13. Avatar de marlene aparecida mello
    marlene aparecida mello

    concordo com o bispo! pensa inteligentemente!

  14. Avatar de EDWIN VIVANCO VALENZUELA
    EDWIN VIVANCO VALENZUELA

    ” Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.” Acho é claro e contundente !

    1. É claro, muito claro! Não se deve querer que a Igreja governe o mundo inteiro, mas devemos ter o máximo respeito pelo ensinamento dos bispos, inclusive em matéria temporal. Como nos ensinou S. João XXIII, “a doutrina social cristã é parte integrante da concepção cristã da vida” (Mater et magistra, n. 221). E mais:

      Não esqueçam que a verdade e a eficácia da doutrina social católica se manifestam, sobretudo, na orientação segura que oferecem à solução dos problemas concretos. Desta maneira, conseguir-se-á chamar para ela a atenção dos que a desconhecem, ou mesmo a combatem por a desconhecerem; e talvez se consiga até que no espírito de alguns se faça luz. (Mater et magistra, n. 224)

  15. Avatar de Paulo cesar Consolini Leite
    Paulo cesar Consolini Leite

    Sou Católico e deixo uma pergunta: Pode-se confiar na CNBB? Eu não confio.

    1. Uma pena, Paulo, que você não confie nos que Deus colocou para governar a sua Igreja. Por vezes, não os compreendemos (e confesso que isso me ocorre muitas vezes, talvez com o ensinamento de bispos com os quais você concorde mais), mas devemos ter o máximo respeito pelos ensinamentos deles. Nessa questão da crise política, concordo plenamente com a CNBB e o bispo de Crateús.

      A paz!

  16. Avatar de Angelita Linhares
    Angelita Linhares

    Fico imensamente feliz e aliviada com a posição da CNBB, muito bem explicada pelo Bispo e totalmente coerente com a mensagem do Papa Francisco.
    Tenho vivido momentos de extrema decepção com católicos que pregam a Deus e condenam toda e qualquer iniciativa voltada a politicas publicas que combatem exclusão social. Vejo pessoas que se dizem fervorosamente católicos com discursos de ódio, preconceito e hegemonia, perseguindo pobres, bradando contra o Bolsa Família, por pertencerem a classes sociais mais elitizadas que defendem apenas interesses próprios.
    Tenho enfrentados embates terríveis por conta da falsa moral e falsa solidariedade humana que pregam essas pessoas, que acreditam que ser católico é fazer campeonato olímpico de orações, mesmo quando suas ações são totalmente contrárias ao interesse dos mais oprimidos.
    Não reconheço essa prática como Católica e muito menos Cristã.
    Acho de extrema importância que a CNBB destaque seu papel fundamental na defesa pelos direitos do povo explorado e vitimado por toda e qualquer crise econômica. Já vivemos tempos de imensa fome e miséria neste país e calar-se diante do retrocesso eminente seria gravíssimo por parte da igreja.
    Deixemos os jargões como “comunismo” de lado e nos apoiemos na pratica do evangelho, que nós ensina a amar o próximo como a si mesmo.
    Comunismo é uma teoria econômica que nunca existiu na pratica, e usa-lo como termo pejorativo atribuído a ditaduras,fascismos e nazismos só revela falta de conhecimento de economia e história.
    Não se trata aqui de defender partidos politicos, mas defender liberdade, democracia e avanço social a todos. Muito se enganam os que pensam que estariamos melhor governados por líderes religiosos fundamentalistas das igrejas pentecostais, que por nossa omissão, hoje dominam grande parte do cenário politico, onde reproduzem seus crimes de corrupção e lavagem de dinheiro apoiados por fiéis aliciados e aliendos em sua fé.
    Obrigada pela excelente postagem, foi minha primeira visita ao blog, mas passarei a segui-lo
    Um abraço fraterno, Paz e Bem a todos nós.

    1. Obrigado, Angelita! Muitos esquecem que a fé age pela caridade (Gl 5,6). Quanto ao governo por líderes fundamentalistas, talvez ainda pior seja o governo por um maçom, como Michel Temer…

      A paz!

  17. […] revezes contra o povo mais sofrido. Diante do exposto, não é difícil saber o que isso significa. O bispo de Crateús interpretou magistralmente esse ensinamento (e com a autoridade que o Espírito Santo lhe confere). Ofereço meu conhecimento e minha análise […]

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