Putin explicitou ontem (14/6) as condições russas para a paz – enquanto a Ucrânia exige a devolução dos territórios conquistados pela Rússia, inclusive as repúblicas de Lugansk, Donetsk e Crimeia, a Rússia exige a retirada das tropas ucranianas da totalidade das repúblicas do Donbass e das regiões de Kherson e Zaporojia, mesmo aquelas partes onde tropas da Federação Russa nunca estiveram.
Após o fracasso das negociações na Bielorrúsia e na Turquia – que levaram à retirada das tropas russas da região de Kiev, mas não foram concluídas com a assinatura de um acordo – e da proibição de negociações com Putin pelas autoridades ucranianas, o governo de Kiev elaborou um “plano de paz” que deveria ser aceito integralmente pela Rússia para por um fim à guerra. Entre os pontos principais estava a retirada russa de todo o território ucraniano do final de 1991, quando foi dissolvida a União Soviética – isso incluiria as repúblicas da Crimeia, Donetsk e Lugansk, que votaram para obter autonomia e lutaram para se tornarem parte da Rússia.
Exigências ucranianas
Os principais pontos do plano de paz ucraniano são:
- Retirada das tropas russas das fronteiras ucranianas de 1991.
- Restauração da soberania da Ucrânia nas fronteiras de 1991 (portanto, o fim das repúblicas da Crimeia, Donetsk e Lugansk).
- Retorno da central nuclear de Zaparojia ao controle ucraniano.
- Garantia da exportação de cereais ucranianos.
- Limitações às vendas de recursos energéticos russos e ajuda à reconstrução dos recursos energéticos ucranianos destruídos na guerra.
- Troca total de prisioneiros de guerra e retorno das crianças ucranianas retiradas da região de combates.
- Criação de um tribunal especial para julgar crimes de guerra russos.
- Desminagem e reparação de instalações de tratamento de água.
- Garantias de segurança pela OTAN.
Exigências russas
As principais exigências da Rússia são:
- Retirada das tropas ucranianas das regiões de Lugansk, Donetsk, Zaporojia e Kherson, segundo os limites territoriais dessas regiões em 1991.
- Neutralidade e não-alinhamento da Ucrânia nas relações internacionais.
- Status não-nuclear da Ucrânia.
- Desmilitarização ucraniana.
- Desnazificação ucraniana.
Putin acrescentou que, realizada a retirada de tropas e o abandono da pretensão de ingressar na OTAN, a Rússia imediatamente cessaria as hostilidades e daria início às negociações de paz.
Opinião de Visão Católica
Ambos os lados expõem como inegociáveis pontos que jamais serão aceitos pelo outro, especialmente as exigências territoriais. Por um lado, as repúblicas da Crimeia, Donetsk e Lugansk votaram para obter autonomia de Kiev e pegaram em armas para se opor às forças neonazistas que haviam derrubado o governo eleito em 2014. Por outro, a Federação Russa não controla hoje uma parte significativa do território que exige da Ucrânia – na verdade, suas tropas jamais chegaram à cidade de Zaporojia, capital da região homônima. Ainda que argumentem que houve referendos, uma parte significativa dessa região não se pronunciou pela incorporação à Rússia – independentemente da legalidade das votações.
Claro que propostas de paz devem ser discutidas, e as demandas de cada lado deveriam ser o ponto de partida das negociações. Contudo, Zelenski e Putin apresentam suas propostas como um verdadeiro ultimato, cuja não-aceitação resultaria em graves prejuízos para a outra parte. O caminho para a paz deveria passar por reconhecer os direitos de todas as pessoas que habitam a região, inclusive à liberdade linguística, cultural e religiosa, além de proibir e punir manifestações nazistas ou neonazistas, mesmo aquelas que foram elevadas ao status de identidade nacional na Ucrânia pós-soviética.
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