A essa hora, muitas palavras já foram ditas sobre o novo papa, Francisco I. Alguns o elogiaram, outros já o criticaram. Muito também já falaram sobre o que ele representa para a Igreja, conforme a vontade de cada um que comenta. Peço licença para fazer uma breve observação dos fatos desde o último pontificado.
O papa emérito, Bento XVI, desde o princípio tentou abrir a Igreja para o mundo, no sentido de não esconder as dificuldades que ela vive, a cada dia, desde quando foi fundada por Jesus Cristo. Liberou o acesso aos documentos do arquivo vaticano até o pontificado de Pio XI, submeteu-se a entrevista televisiva, submeteu-se também à entrevista que se tornou o livro Luz do Mundo, onde tratou dos temas mais polêmicos, endureceu o tratamento dado aos que abusam de menores. Tudo isso provou uma grande humildade, transmitida a toda a Igreja, ainda que nem todos os membros do corpo de Cristo o tenham seguido no mesmo ritmo.
Porém, a maior renovação, o maior gesto de humildade de Bento XVI, foi sua renúncia. Não se apegou a um cargo proeminente, a ser o vigário de Cristo, mas demonstrou ser verdadeiramente o servo dos servos de Deus. Aí é que vemos uma grande continuidade no novo papa, Francisco I. Não apenas no nome escolhido, que nos remete a S. Francisco de Assis (embora também possa remeter a S. Francisco Xavier ou a S. Francisco de Sales). É verdade, S. Francisco foi um grande exemplo de humildade, tendo deixado para trás uma grande fortuna para abraçar a pobreza evangélica, reformando profundamente a Igreja com seu exemplo. Ele também intercedeu e pediu a intercessão pelo seu predecessor. Em seguida, pediu que o povo rezasse por ele, e curvou-se perante o povo, para receber a bênção de Deus. Também se identificou decididamente com o povo romano, que ele guia como bispo daquela cidade, e com o povo de todo o mundo, que ele guia como sucessor de Pedro e pastor universal.
Vemos, nos gestos, nas palavras e no silêncio de Francisco I a humildade do servo dos servos de Deus, escancarada numa personalidade que já se demonstra cativante, mas também escondida em gestos que praticava em Buenos Aires, como preparar as próprias refeições, ou usar o transporte público. Se Cristo se humilhou, tornando-se homem e sofrendo a morte mais terrível na cruz (Fl 2,5-11), o vigário de Cristo deve seguir o mesmo caminho. É este caminho que o papa Francisco parece estar desde já trilhando.
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