O processo de beatificação de dom Hélder Pessoa Câmara, arcebispo emérito de Olinda e Recife, iniciará dia 3 de maio, às 9h, na Sé de Olinda, conforme edital do arcebispo dom Antônio Fernando Saburido, OSB. Com o nihil obstat da Congregação para a Causa dos Santos, ele foi declarado “servo de Deus”.
O edital insta “todos os fiéis ou interessados a fornecer quaisquer documentos pertencentes ou referentes a Dom Helder Pessoa Camara e dar notícias que sejam úteis a esta causa, se as tiverem.”
Vida de dom Hélder Câmara
Dom Hélder foi padre conciliar no Concílio Vaticano II e participou do Pacto das Catacumbas, um compromisso pela pobreza evangélica e pela atenção pastoral aos pobres, celebrado por 40 padres daquele concílio. Enquanto exercia seu ministério na então capital da República, a cidade do Rio de Janeiro, criou o Banco da Providência, uma organização sem fins lucrativos que procura promover o desenvolvimento humano das populações mais pobres daquele lugar.
Dom Hélder foi um importante agente na luta contra a ditadura militar, da qual sofreu acusações de “demagogo” e “comunista”, por denunciar a miséria dos agricultores nordestinos. Sua casa foi metralhada e assessores seus foram presos. Padre Antonio Henrique, seu colaborador, foi assassinado.
Ele também teve importante papel na criação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e da Conferência Episcopal Latino-Americana e do Caribe (CELAM).
Leia breve biografia de D. Hélder publicada pela arquidiocese de Olinda e Recife:
Dom Helder Camara nasceu em 7 de fevereiro de 1909, em Fortaleza, e teve 12 irmãos. Após entrar muito jovem no Seminário da capital do Ceará, se tornou padre aos 22 anos.
O primeiro momento da vida religiosa de dom Helder foi marcado pela militância junto a instituições políticas conservadores, como a Ação Integralista Brasileira, entre 1932 e 1937. Mais tarde, o religioso considerou a participação como um erro da juventude. Já radicado no Rio de Janeiro desde 1936, passou a optar por um trabalho assistencialista, quando fundou departamentos da Igreja voltados para atender os mais necessitados.
Após longo período atuando na então capital do Brasil, dom Helder foi nomeado para o Maranhão. Com a morte do arcebispo de Olinda e Recife, é mandado para Pernambuco, onde desembarcou em 12 de abril de 1964, poucos dias após o golpe militar. Na capital pernambucana, o religioso desembarcou em meio a uma relação conturbada entre Governo do Estado e Igreja.
Dois dias após a posse, dom Helder lançaria, juntamente com outros 17 bispos nordestinos, um manifesto à Nação, pedindo liberdade das pessoas e da Igreja. O primeiro grande atrito, entretanto, ocorreu em agosto de 1969, quando o arcebispo foi acusado de demagogo e comunista, por ter criticado a situação de miséria dos agricultores do Nordeste.
A partir de então, dom Helder sofreu represálias, inclusive com sua casa metralhada, assessores presos e com a morte de Padre Antônio Henrique, que foi assassinado. Em 1970, quando dom Helder teve o nome lembrado para o Prêmio Nobel da Paz, o governo brasileiro promoveu uma campanha internacional para derrubar a indicação, já que ele denunciava a prática de tortura a presos políticos no Brasil. Também em 1970, os militares chegaram a proibir a imprensa de mencionar o nome do Arcebispo de Recife e Olinda.
Dom Helder comandou a Arquidiocese de Olinda e Recife até o dia 10 de abril de 1985, quando – por atingir a idade limite de 75 anos – foi substituído pelo arcebispo dom José Cardoso Sobrinho. Ele morreu em sua casa, no Recife, em 27 de agosto de 1999, devido a uma insuficiência respiratória decorrente de uma pneumonia. Seus restos mortais estão sepultados na Igreja Catedral São Salvador do Mundo, em Olinda.
Pelo seu trabalho em defesa dos direitos humanos, dom Helder recebeu vários prêmios internacionais, como Martin Luther King, nos Estados Unidos, 1970, e o Prêmio Popular da Paz, na Noruega, 1974. O religioso é autor de 22 livros, a maioria ensaios e reflexões sobre o terceiro mundo e a Igreja.
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